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|sábado, fevereiro 25|
Das idades, da paz e da tranqüilidade... Outro dia uma pessoa de uma lista que freqüento comentou sobre os preparativos que tinha feito quando estava às vésperas de completar 30 anos e perguntou aos outros o que sentiram quando entraram nesta idade... Não me preparei e nem senti nada especial quando fiz 30 anos. Para mim, completar 30 anos foi exatamente como fazer 25, 29 ou 34... A mesma coisa quando completei 40. Não sei por que, mas estas datas terrenas, essa obsessão cronológica começou a me dar um certo tédio desde quando, ansiosa por ter 18 anos, descobri que não havia de fato grandes diferenças... Apenas o número mudava. Quase todos os meus amigos, desde os meus 20 anos, sempre foram muito mais velhos que eu... E eram pessoas brilhantes, intelectuais, jornalistas, músicos, enfim, pessoas que curiosamente eram muito mais "jovens", atuantes e participativas do que as de minha idade... Alguns deles, artistas, têm até hoje a platéia abarrotada por público jovem. "A idade que se tem é a que sentimos" e não a determinada por um calendário que um papa resolveu instituir, sabe-se lá para atender a interesses de quem... E se o padrão de contagem fosse outro, hein? E se houvesse uma Babel e existissem diversos padrões de contagem cronológica, um para cada grupo social, raça, sexo, etc., que aliás, até muito pouco tempo atrás vigorava em relação às mulheres. Na minha adolescência, década de 60, ouvia um cantor, o Miltinho, cantar a música "Mulher de trinta" assim: "Você mulher, que já viveu que já sofreu, não minta Um triste adeus, nos olhos teus a gente vê mulher de trinta..." (??????????????) Adeuss??? Aqui, ó! Felizmente esta canção entrou por um ouvido e saiu por outro... Se não estaria marcada a ferro e fogo "ad eternum"... :))))) Hoje estou com 49 e, se sobreviver, daqui a pouco terei 50, quiçá 60? :) É evidente que algumas mudanças ocorreram em mim, não por causa da idade, mas pelo caminho percorrido e pela capacidade de aprendizado. Conheço pessoas que chegam aos 80 e continuam tão vazias, conformistas e mesquinhas como quando eram mais jovens. Mas, minhas inquietações, perguntas, indignação e sede pela vida são tão ou maiores do que as da juventude! Quem tiver esta chama acesa não envelhecerá nunca. Não voltaria, nem por um segundo, às minhas idades anteriores! Me gosto mais e me sinto muito mais plena, consciente e generosa hoje do que já fui algum dia. Descobri que a harmonia e uma certa felicidade estão do lado de dentro e não do lado de fora e que apenas nós possuímos a chave secreta, embora existam pessoas que se debatam pensando que outra pessoa possui sua chave e outras ainda que nem desconfiam que essa chave existe. Descobri que meu maestro predileto, o Tom Jobim, estava equivocado ou carente quando escreveu "É impossível ser feliz sozinho..." É perfeitamente possível ser feliz sozinho, dependendo da capacidade de introspecção e de gostar de si mesmo de cada um. Mas como no Universo nada está parado, ficar estática, numa posição de serenidade e harmonia é muito chato! Tanto que estou até pensando em arranjar uma paixão, daquelas terríveis e infernizantes, que tiram a serenidade, a paz e o prumo, pois não estou suportando tanta paz e equilíbrio! :))) Viver é ter contrastes, sombra e sol, percorrer altos e baixos! Sempre! Que a paz esteja comigo além túmulo. Mas não agora! Eliane Stoducto Publicada na CRÔNICA DO DIA , em 20.agosto.1999 dito por li stoducto
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